Descoberta pode alterar período de proteção do caranguejo-uçá no Amapá

No último dia 28 de junho, uma descoberta realizada pelo Projeto Costamar pode representar um marco na conservação do caranguejo-uçá na costa do Amapá. Pela primeira vez, desde o início do monitoramento feito pelo projeto, foi registrado um evento de andada reprodutiva, comportamento típico da espécie, na Estação Ecológica de Maracá-Jipioca (ESEC), unidade federal de proteção localizada no litoral do estado.
Executado pelo Instituto Redemar Brasil, em parceria com a Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental e com o apoio de colônias de pescadores locais, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e Edinburgh Napier University, o projeto identificou esse comportamento reprodutivo fora do período oficial de defeso, intervalo do ano em que a captura do caranguejo é proibida para garantir sua reprodução. A andada foi observada à noite, o que reforça o alerta de que o calendário atual de proteção pode não estar adequado ao ciclo biológico da espécie nesta região.

“É um primeiro registro, ainda pontual, mas que pode indicar um descompasso entre o calendário oficial e a biologia da espécie em determinados territórios”, explica Thiago Couto, biólogo do Projeto Costamar.
O caranguejo-uçá é um recurso essencial para a subsistência de milhares de catadores e catadoras artesanais nos manguezais do Norte e Nordeste do Brasil. Garantir que o defeso ocorra no momento adequado é crucial não apenas para a preservação da espécie, mas também para assegurar uma exploração sustentável que mantenha o sustento das comunidades tradicionais.
Caso registros como o da ESEC Maracá-Jipioca se repitam nos próximos anos, o projeto poderá reunir evidências técnicas que subsidiem uma possível revisão no calendário de defeso. Isso abriria caminho para políticas públicas mais eficazes na proteção da espécie e no fortalecimento da pesca artesanal.
O monitoramento das andadas reprodutivas do caranguejo, criado pelo Prof. Anders Smith (UFSB) e pela Prof. Karen Diele (Edimburgh Napier University), continuará nos próximos 3 anos, com o objetivo de confirmar a consistência desse padrão reprodutivo fora da época oficial. A expectativa é que a ciência, aliada ao conhecimento tradicional das comunidades, contribua para uma gestão mais precisa e participativa dos recursos costeiros da Amazônia.

A iniciativa conta com a parceria da Petrobras e tem o apoio da Colônia de Pescadores Z6 de Santana, Colônia Z2 do município de Amapá, ICMBio PARNA do Cabo Orange, ICMBio ESEC Maracá-Jipioca, Edinburgh Napier University e Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).