
O mestre violonista Nonato Leal completa nesta terça-feira, 23 de julho, 98 anos de vida. Ícone da música amazônica e figura central na formação de gerações de artistas no Amapá, o músico comemora quase um século de existência marcado por dedicação à arte, à educação e à valorização da cultura regional.
Natural de Vigia, no Pará, Nonato nasceu em 1927 em uma família de músicos. Desde muito cedo demonstrou talento, aos oito anos iniciou os estudos com o pai, e aos dez já se apresentava em público tocando violino. Ainda jovem, dominou outros instrumentos como banjo, bandolim, violão tenor, viola e cavaquinho, versatilidade que marcaria sua trajetória artística.
Aos 19 anos, compôs sua primeira música, “Tauaparanassu”, uma homenagem à cultura indígena local. A obra inaugurava uma longa produção autoral que refletia o espírito amazônico e suas raízes populares.
Dos estúdios de rádio à educação musical
Durante as décadas de 1940 e 1950, Nonato atuou em importantes emissoras de rádio no Brasil, como a PRC-5 Rádio Clube do Pará, e passou por cidades como Belém, Rio de Janeiro e Fortaleza. Em fevereiro de 1952, chegou a Macapá a convite do irmão, e integrou o elenco artístico da então recém-fundada Rádio Difusora.
Sua atuação não se limitou aos palcos e estúdios. Em 1970, tornou-se o primeiro professor de violão do Conservatório Macapaense de Música (hoje Centro de Educação Profissional Walquíria Lima), onde lecionou até 1988. Por quase duas décadas, formou músicos que hoje representam a tradição musical amapaense em diferentes espaços.
Mesmo aposentado, nunca abandonou o ensino. Continuou ministrando oficinas, participando de projetos e incentivando novos talentos, tornando-se um símbolo da educação musical no estado.
Produção autoral e reconhecimento
Nonato Leal também construiu uma carreira autoral sólida. Gravou os CDs Lamento Beduíno e Coração Popular, sob direção do maestro Manoel Cordeiro, além de ter sua obra registrada na coleção de partituras “Mestres da Música: Nonato Leal”, lançada em 2019.
Em setembro de 2024, a Universidade Federal do Amapá (Unifap) lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa, reconhecendo sua contribuição histórica à cultura e à educação musical na Amazônia. Já em 2025, foi homenageado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com o mesmo título.
A Orquestra de Violões Nonato Leal, criada em sua homenagem, é hoje uma das principais iniciativas de difusão do violão erudito-popular no estado.
Presença viva da cultura local
Apesar da idade avançada, Nonato mantém-se ativo. Em 2023, aos 93 anos, emocionou o público ao se apresentar ao lado do filho Venilton Leal durante a 52ª Expofeira do Amapá, reafirmando seu vigor artístico e sua conexão com novas gerações.
Seu estilo une a delicadeza do violão clássico brasileiro à espontaneidade do choro e da seresta. Influenciado por nomes como Dilermando Reis e Sebastião Tapajós, teve reconhecida participação em eventos nacionais como a Semana de Arte Amapaense, programas da Funarte e circuitos promovidos pelo Sesc.
Um mestre da música amazônica
Nonato Leal é mais que um músico: é um educador, compositor, arranjador e intérprete que deixou marcas profundas na cultura amapaense. Sua obra, gravada e publicada, é referência para pesquisadores, estudantes e amantes da música brasileira.
Aos 98 anos, o mestre celebra a vida com a mesma paixão que o acompanhou desde a infância. Nonato é, sem dúvida, uma das maiores expressões vivas da arte no Amapá e na Amazônia, um legado que seguirá ecoando por gerações.
Feliz vida Mestre Nonato Leal sua hóstia seu legado sua arte é imortal. Parabéns Kaiser que matéria linda