Autismo, pertencimento e inclusão: mãe atípica lança livro Corações Atípicos, na Universidade Federal do Paraná


Com o propósito de abordar o autismo sob diferentes perspectivas humanas, sociais e inclusivas, além de evidenciar histórias de pertencimento, inclusão e transformação, a oficiala de Justiça do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), Artilamar Quintas, lançou, no último sábado (13), o livro “Corações Atípicos”, na Biblioteca Rebouças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba (PR). A servidora do TJAP é uma das mães de autistas co-autoras da coletânea de relatos.
A iniciativa integrou a programação literária promovida pela Editora Rosafrancesa e reuniu autores, especialistas, famílias e pessoas engajadas na causa do Transtorno do Espectro Autista (TEA), comunidade universitária e público em geral interessado em literatura. O evento integrou o lançamento de vários livros, dentre eles Corações Atípicos, além das obras Raízes e Asas e Cartas que Escrevi.
Durante a programação literária, ocorreram apresentações culturais. Um dos momentos marcantes da programação foi a participação do pianista João Pedro Lima Quintas, de 22 anos, filho da Oficiala de Justiça Artilamar Quintas. Autista, o músico realizou uma apresentação musical que emocionou o público. Ele tocou a música popular brasileira “Luar do Sertão” e a clássica “Solfeggieto”. E reforçou a mensagem de inclusão e superação presente no lançamento. Também presente o titular da 1ª Vara de Família, Órfãos e Sucessões de Macapá, juiz Marcus Quintas, esposo da servidora escritora e pai do musicista.
Ao comentar a participação da família no evento e a importância do tema, o juiz Marcus Quintas destacou a necessidade de ampliar o olhar da sociedade e do poder público para as pessoas com autismo.
“Que as pessoas possam valorizar essa causa, difundir o tema para toda a sociedade e, principalmente, atender toda a demanda necessária para essa clientela, crianças e adolescentes que necessitam desse trabalho multidisciplinar que o poder público precisa proporcionar a eles”, afirmou o magistrado do TJAP.
A Oficiala de Justiça do TJAP ressaltou a trajetória de desenvolvimento de seu filho mais velho, que se chama Marcus Quintas Filho, autista suporte 1 (Síndrome de Asperger) e as conquistas alcançadas ao longo dos anos.
“O João não tolerava barulho. Ele não conseguia suportar os fogos, mas hoje ele já superou, tudo isso graças ao apoio familiar e ao acompanhamento adequado”, comentou Artilamar Quintas.
Em sua fala, João Pedro Lima Quintas agradeceu a oportunidade de participar do lançamento e de compartilhar sua experiência.
“Eu me chamo Pedro Quintas, tenho 22 anos. Sou filho de Marcus Quintas e Artilamar Quintas. Tenho um irmão que se chama Marcus Filho e tenho autismo, suporte 2. Aprendi a ler e a escrever aos três anos, embora fosse não verbal. Hoje, já consigo me comunicar com frases curtas. Minha alta habilidade é a música. O que mais gosto de fazer é tocar piano, jogar videogame e assistir aos telejornais”, disse João Pedro Quintas.
O pianista também ressaltou o papel da família em sua trajetória ao agradecer a oportunidade de estar no evento, mostrar o quanto uma pessoa com autismo pode avançar com suporte familiar, baseado no amor e na confiança, e parabenizou todos os autores, em especial à mãe que nunca desistiu dele e do irmão.
Mais sobre o livro Corações Atípicos e a contribuição da servidora do TJAP para a obra
O livro Corações Atípicos é uma coletânea de textos, como poemas, crônicas ou relatos, com experiências pessoais, diversidade e outras perspectivas consideradas atípicas, com a temática do autismo, escrito por mães de pessoas do espectro autista e profissionais da área. A obra, que possui duas edições (nacional e internacional, pois foi lançada no Brasil e na Europa), reforça o alcance e a relevância do tema.
Artilamar Quintas explicou que o convite para integrar o livro Corações Atípicos partiu da fonoaudióloga e escritora, Arlete de Gasparin, que acompanha sua trajetória ligada à causa do autismo há mais de três décadas. Na obra, a oficiala de Justiça do TJAP narra a experiência como mãe de seu primogênito, Marcus Quintas Filho, hoje com 31 anos, cujo diagnóstico de autismo ocorreu apenas aos 19, quando ingressou no curso de Direito e enfrentou maior instabilidade emocional e social. Ela contextualiza que, à época, o diagnóstico para pessoas com bom desempenho acadêmico e alguma interação social ainda enfrentava barreiras, muitas vezes substituído por classificações como superdotação ou altas habilidades. A autora ressalta que sua vivência familiar com o autismo também se fortaleceu a partir do acompanhamento do filho mais novo, João Pedro, autista suporte 2, o que ampliou seu olhar e sua atuação sobre o tema.
“Meu artigo tem o título “Mãe Gligente” e nasce de um momento profundo de dor, exaustão e culpa, comuns a muitas mães atípicas que precisam conciliar maternidade, vida profissional e responsabilidades sociais. Em um desses momentos, perguntei ao meu filho Marcus se ele achava que eu tinha sido negligente com ele e com o irmão. A resposta veio de forma inesperada e transformadora: ele disse que eu tinha sido ‘gligente demais’. Essa palavra, criada por ele, aliviou um peso que carreguei por anos e ressignificou minha trajetória como mãe. A partir dali, compreendi que percorri o melhor caminho possível para conduzir meus filhos a uma vida com mais autonomia. O texto conta nossa história familiar com o autismo e convida outras famílias a refletirem sobre pertencimento, acolhimento e inclusão”, detalhou Artilamar Quintas.








